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Abdellatif Hammouchi: carrasco dos direitos e arquiteto de um império do medo

No Marrocos, é impossível falar do Estado moderno sem tropeçar no nome de Abdellatif Hammouchi. Homem que construiu para si a imagem de herói da segurança nos meios de comunicação, mas que, na realidade, transformou os serviços de polícia e de informações numa fortaleza pessoal de poder e controlo.

Herdeiro da escola de Driss Basri

Hammouchi não surgiu do nada. É filho da escola de Driss Basri, o lendário ministro que governou Marrocos com mão de ferro durante o reinado de Hassan II. Mas trouxe consigo uma nova era, com ferramentas ainda mais perigosas: tecnologia, imprensa subserviente e exércitos de contas digitais manipuladas. Assim construiu um “império de papel”, sustentado pelo medo, pela espionagem e por dossiês comprometedores.

Dossiês que só se abrem quando convém

Desde que chegou ao topo da hierarquia da segurança marroquina, Hammouchi reuniu os dossiês mais sensíveis: tráfico de drogas, contrabando, redes de corrupção política e até o dossier do Saara, usado como arma de chantagem interna e externa.
Conhece os nomes dos barões da droga e dos que transportaram toneladas através de Saïdia para África e Europa. Conhece políticos, mas nunca agiu. Porquê? Porque esses dossiês não servem para resolver problemas, mas sim para chantagem e controlo. Abre-os quando quer, fecha-os quando o jogo exige.

O governante securitário em vez do rei

O perigo de Hammouchi é que não se limitou a ser um responsável de segurança. Infiltrou-se no próprio palácio e passou a apresentar-se como protetor do rei Mohammed VI contra conspirações que ele próprio tece.
Assim separou o rei do povo, ergueu um muro de medo e intrigas, e tornou-se a única porta de acesso entre o trono e os cidadãos. O povo continua a amar o rei e a acreditar na monarquia de Tânger a Lagouira, mas as mãos manchadas de corrupção e repressão deformaram essa relação e acenderam um fogo que Hammouchi não quer apagar — porque dele se alimenta.

A rua em ebulição… e os serviços em silêncio

Hoje o Marrocos vive sobre um barril de pólvora. A tensão social atingiu o auge, as manifestações multiplicam-se em várias cidades. A pobreza corrói, a injustiça aumenta, mas surge a pergunta mais inquietante:
Onde estão os relatórios dos serviços de informações? Onde estão os departamentos de vigilância pública que custaram milhares de milhões ao Estado?
Esses relatórios chegam de facto ao rei Mohammed VI? Ou são filtrados e manipulados por Hammouchi e pelos seus círculos, que lhe pintam um quadro artificialmente calmo, enquanto a rua ferve?

A ausência de uma resposta eficaz às manifestações expõe a realidade: os serviços secretos deixaram de ser instrumentos de proteção do povo ou de transmissão das suas preocupações ao rei. Tornaram-se armas ao serviço de Hammouchi, usadas para reforçar o seu poder e esconder a verdade do chefe de Estado.

O Rif… a ferida aberta

O Hirak do Rif foi uma das fases mais reveladoras da incapacidade dos serviços de Hammouchi. A escalada da crise interna e as críticas externas foram consequência direta de políticas repressivas que nunca souberam lidar com a pobreza e a marginalização.
O Rif, e Al Hoceima em particular, não precisavam de prisões nem de julgamentos forjados, mas de soluções de desenvolvimento reais e de relatórios honestos apresentados ao rei para superar a crise. Hammouchi escolheu o caminho mais fácil: repressão em vez de reforma, cárcere em vez de diálogo. O resultado: uma ferida aberta que transformou a juventude do Rif em símbolo de revolta e privação.

Direitos humanos reduzidos a encenações

Na era Hammouchi, os direitos humanos evaporaram-se. Qualquer opositor, jornalista livre ou ativista independente tornou-se vítima de dossiês fabricados, de acusações falsas e de julgamentos simulados. A comunicação oficial criou dele a imagem de “herói nacional”, mas a realidade mostra um carrasco dos direitos humanos, que fez da repressão a regra e da liberdade uma exceção ilusória.

O preço de permanecer no trono do poder

Hoje Hammouchi já não é apenas diretor-geral da Segurança, nem apenas chefe dos serviços de informações internos. Tornou-se o “governante de facto” que dita o ritmo do Estado segundo os seus próprios interesses.
A sua única questão: como permanecer no cargo? A sua resposta: através de dossiês comprometedores, do medo e da fabricação de conspirações.
Mas a questão maior que o povo coloca é evidente: quem fiscaliza Hammouchi? Quem julga o carrasco dos direitos que alimenta-se da corrupção, do narcotráfico e da repressão das liberdades?
Até agora, a resposta é: ninguém. Nem o parlamento. Nem a justiça. Até o rei encontra-se cercado pelo muro que Hammouchi construiu à sua volta.

A encruzilhada histórica

O Marrocos encontra-se hoje perante uma encruzilhada perigosa: ou o rei recupera o contacto direto com o povo, ou continuará prisioneiro do império do medo erguido por este homem.
A verdade é que Abdellatif Hammouchi não construiu uma glória, mas uma ilusão. Não protegeu o Estado, antes o enfraqueceu. Não apenas reprimiu a oposição, mas também prejudicou a imagem do Marrocos no exterior.
Enquanto este dossier não for aberto de forma pública, o “império Hammouchi” continuará a agir como um cancro no corpo do Estado.

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