Editor-chefe Dr. Ezzat Al-Jamal – Especialista em assuntos estratégicos e relações internacionais escreve: Antes da Cúpula do Clima… sangue nas ruas do Rio de Janeiro após operações consideradas as mais violentas da história do Brasil… É terrorismo das drogas ou repressão aos pobres?

Nos raids nas favelas: alvo os pobres ou substituição de traficantes de segunda linha?
O massacre no Rio de Janeiro não foi apenas uma “operação de segurança bem-sucedida”, como quis mostrar o governo brasileiro, mas um novo espetáculo de militarização do Estado no Brasil.

Quando um país falha e apoia traficantes de drogas, a pobreza e o controle sobre os jovens, não há esperança vinda desse Estado. A guerra entre governo e gangues de drogas matou mais de 170 pessoas, incluindo civis, no Rio de Janeiro. Armas pesadas foram usadas, e alguns policiais executaram membros de gangues, às vezes sem saber que moravam no mesmo bairro.

Isso viola os princípios constitucionais e os planos da polícia aprovados pelo Supremo Tribunal em abril passado. Mas onde estão? No Brasil, todos – povo, exército e polícia – pensam que ganham, mas na realidade todos perdem. Cada traficante morto é rapidamente substituído. A corrupção policial permite que os grandes barões controlem o país. Assim, a cabeça da cobra permanece intocável e apenas os pequenos agentes são eliminados, tornando o Rio de Janeiro a favela mais perigosa do mundo.

Tomemos a favela de Rocinha: mais de 200.000 habitantes em apenas 68 hectares, casas empilhadas em colinas. A pobreza alimenta a criminalidade e o tráfico de drogas. As gangues possuem armas mais poderosas que a polícia. Ainda assim, os moradores vivem e trabalham duro para melhorar suas condições. O Rio de Janeiro possui mais de 1.000 favelas, e Rocinha é apenas uma delas. Hoje vemos cadáveres decapitados e mutilados, um evento de extrema brutalidade.

As operações da polícia civil e militar contra o Comando Vermelho nos complexos de Vila Cruzeiro e Alemão estão entre as mais sangrentas da história da cidade. Elas levantam dúvidas sobre a eficácia de uma política de segurança que coloca os civis em risco e viola direitos humanos.

Uma polícia que mira os pobres
A tecnologia é usada para mirar os moradores: drones e inteligência artificial, que deveriam proteger, tornam-se instrumentos de assassinato. A polícia pode eliminar traficantes de segunda ou terceira linha, mas nunca os barões protegidos pelo sistema. As mortes são sempre dos pobres, enquanto os “imperadores” continuam seus negócios em escritórios climatizados.

Um Estado sem consciência
Quando câmeras inteligentes e drones tornam-se juiz e carrasco, estamos diante de um futuro sombrio em que a máquina justifica a morte. Como uma máquina pode distinguir um traficante de uma criança com mochila escolar? Não é guerra às drogas, mas guerra aos pobres.
Em 2024, cerca de 700 pessoas foram mortas em operações de segurança no Rio, média de duas mortes por dia, levantando dúvidas sobre a eficácia dessa abordagem. Restrições a operações perto de escolas e hospitais foram levantadas, permitindo campanhas militares em favelas novamente.

Organizações de direitos humanos: “Sangue não acaba com o crime”
Críticas locais e internacionais consideram essa estratégia um aumento da violência, não redução do crime. O governo ataca os pobres há décadas. Essas ações aumentam o isolamento das comunidades e aprofundam a desigualdade, poucos dias antes do Rio sediar eventos globais sobre clima e paz.
Antes da Cúpula do Clima… Rio sob os holofotes
Esses raids ocorrem antes da Cúpula mundial C40 de prefeitos sobre mudança climática e do Prêmio Earthshot do Príncipe William. Estes eventos fazem parte da preparação para a COP30 em Belém, Amazônia (10 a 21 de novembro). As autoridades intensificam a segurança antes de grandes eventos internacionais, como Jogos Olímpicos 2016 ou G20 2024.
Choque humanitário e críticas internacionais
Organizações de direitos humanos chamam essa operação de “massacre”, questionando sua eficácia. Segundo o Alto Comissariado da ONU, é “horrível” e o governo deve revisar sua estratégia. Quase 300.000 pessoas foram colocadas em zona de guerra.
Cada cadáver nas favelas mostra que o sucesso do Estado se mede pelo número de mortos, não pelas vidas salvas. Matar centenas em um dia não é justiça, é caos em nome da ordem. As raízes da corrupção permanecem intactas, alimentadas diariamente pelo sangue dos pobres.



