O editor-chefe Dr. Ezzat El Gamal escreve O Saara Ocidental… entre a mediação americana e os interesses internacionais… estará o futuro de Marrocos a ser manipulado

A questão do Saara Ocidental continua a ser uma das mais complexas do Norte de África. Um conflito que dura há mais de cinquenta anos entre Marrocos, a Argélia e a Frente Polisário, refletindo claramente o crescente envolvimento internacional neste dossiê.
Enquanto os Estados Unidos planeiam enviar novas mensagens diplomáticas através de uma mediação americana, parece que o jogo não se limita à resolução de um conflito regional, mas envolve interesses internacionais onde se cruzam as grandes potências.
A questão é: será esta mediação americana realmente eficaz na resolução do conflito, ou será apenas uma nova redistribuição de influências? E qual é o papel de Israel na região?

O mapa das influências: o Saara e o Sahel no centro das ambições internacionais
O Saara Ocidental não é apenas um conflito fronteiriço, mas uma região rica em recursos naturais e vista como estratégica para o Magrebe e os países do Sahel.
Os Estados Unidos estão particularmente interessados na região do Saara, considerando-a uma porta de entrada para combater ameaças à segurança e grupos armados. A área passou a fazer parte da agenda de Washington para expandir a sua influência em África, especialmente com o rápido crescimento da presença da China e da Rússia.
Israel vê Marrocos como um ponto estratégico no Norte de África, fortalecendo a sua presença no continente através de relações económicas e de segurança. Essas relações foram consolidadas com os acordos de normalização, levantando questões sobre o impacto dessa aliança na segurança regional e no futuro dos povos locais.
A França, antiga potência colonial na região, enfrenta agora sérios desafios geopolíticos devido ao declínio da sua influência em favor dos Estados Unidos e de Israel, colocando-a numa posição delicada em relação ao dossiê do Saara Ocidental.

A mediação americana: pela paz ou pela reorganização dos interesses?
Os Estados Unidos podem apresentar-se como mediadores entre Marrocos e a Argélia, tendo anunciado esforços para aproximar as duas partes dentro de um prazo definido.
Mas a verdadeira questão é: trata-se de uma tentativa genuína de resolver a crise de forma duradoura ou apenas de uma manobra para orientar a região segundo os interesses de Washington?
É possível que os EUA apoiem novamente a proposta marroquina de autonomia, garantindo a Rabat um maior controlo sobre o Saara Ocidental.
Por outro lado, a Argélia e a Frente Polisário mantêm a sua posição a favor do direito à autodeterminação do povo saharaui, tornando qualquer solução abrangente difícil de alcançar.
Se esta mediação falhar, as tensões políticas e militares poderão aumentar, especialmente tendo em conta o agravamento da situação de segurança no Sahel, onde a atividade de grupos terroristas tem crescido com o apoio de potências regionais e internacionais.
Israel e Marrocos: uma porta de influência para África
Após os acordos de normalização, Marrocos entrou numa parceria estratégica com Israel, que procura expandir a sua presença em África.
A cooperação militar e de segurança entre os dois países tornou-se mais forte, levantando preocupações de que Marrocos possa ser utilizado como base de influência israelita no Sahel.
Além disso, fala-se de acordos que poderiam conceder a Israel uma parte significativa das riquezas locais, o que levanta dúvidas sobre a soberania marroquina e os benefícios reais para o povo do país.

A exploração dos recursos: quem ganha realmente?
As riquezas do Saara Ocidental — como os fosfatos e os minerais raros — tornam a região muito cobiçada pelos investidores internacionais.
Os Estados Unidos e Israel podem beneficiar dessas riquezas através de multinacionais, o que aumenta as tensões sobre a partilha dos lucros.
Em alguns cenários, até 70% dos rendimentos poderiam ir para empresas estrangeiras, deixando apenas 30% para Marrocos — uma ameaça clara à soberania económica do país.
A posição da Argélia e da Frente Polisário: resistência inevitável
Para a Argélia, é inaceitável qualquer solução que ignore o direito à autodeterminação do povo saharaui.
Os próprios saharauis acreditam que qualquer acordo deve garantir as suas liberdades e direitos fundamentais.
A Argélia apoia a Frente Polisário nesse ponto e rejeita qualquer tentativa de ceder territórios ou direitos nacionais.
No entanto, é provável que a Argélia enfrente pressões de algumas potências internacionais que pretendem impor soluções que não correspondem às suas exigências principais.

Os movimentos internacionais: França, Rússia, China — quem sai a ganhar?
A França observa atentamente o declínio da sua influência no Magrebe, em benefício dos Estados Unidos e de Israel.
A China e a Rússia entram em cena com grandes investimentos em África, procurando ampliar a sua presença na região.
O Marrocos torna-se, assim, um ponto de convergência e confronto entre interesses internacionais divergentes.
Gaza: uma lição sobre as promessas das potências internacionais
Os acontecimentos em Gaza mostram claramente como as grandes potências perseguem os seus próprios interesses à custa dos povos.
Os Estados Unidos e Israel fizeram muitas promessas em vários dossiês, mas no fim, essas promessas revelaram-se enganosas, servindo apenas objetivos estratégicos distantes de qualquer preocupação humanitária.
O Marrocos e os países árabes devem compreender que a aliança israelo-americana não passa de um instrumento para alcançar fins externos, em detrimento dos direitos soberanos das nações.
A própria França sofreu com promessas não cumpridas no Norte de África e encontra-se agora numa situação política delicada na região.
O Saara: mais do que um conflito regional, uma questão global
A questão do Saara Ocidental ultrapassa o âmbito de um simples conflito entre dois países. Tornou-se um campo de batalha geopolítico onde se decide o futuro de África e das suas riquezas.
Os Estados Unidos e Israel procuram soluções que sirvam os seus interesses económicos e de segurança, mas a soberania de Marrocos e os direitos do povo saharaui devem permanecer no centro de qualquer solução justa e duradoura.
A resolução do conflito deve basear-se na justiça para todas as partes, sem agendas ocultas de dominação estrangeira.
Os povos marroquino e argelino precisam de unir forças contra qualquer tentativa de manipulação sob o pretexto de “mediação” ou “acordos temporários” que sirvam apenas interesses externos.
Pontos que devem ser reforçados:
- Incluir a influência da opinião pública nas decisões políticas.
- Ampliar o debate sobre o papel das Nações Unidas no conflito.
- Destacar as ameaças à segurança na região.
- Esclarecer as posições da França, da China e da Rússia perante as mudanças políticas globais.
- Denunciar a manipulação dos povos pelas grandes potências, como se vê em Gaza.
Qualquer que seja o rumo que a mediação americana tome, uma verdade permanece: não haverá paz real na região enquanto as condições da Argélia não forem respeitadas e transformadas em compromissos concretos por parte de Marrocos.
A aproximação não acontecerá com slogans, mas com ações concretas que restaurem a confiança perdida há décadas.
Se Marrocos aceitar essas condições — pedido oficial de desculpas, fim do tráfico de drogas, contenção das campanhas mediáticas hostis e afastamento de Israel das fronteiras — isso será o verdadeiro teste da sua boa fé e o fator decisivo para o sucesso da mediação americana.
Só então poderá abrir-se uma nova página entre dois países irmãos, separados pela política, mas unidos pela geografia, pela história e por um destino comum.



